quinta-feira, 25 de março de 2010

Reação.

Infelizmente sempre repito o mesmo registro estupido. Eu realmente não existo, não de verdade. Como posso explicar ?
Vamos a tentativa: realmente sempre me preocupo demais com o bem do próximo, mesmo que o próximo não me seja assim tão próximo. e dá sempre na mesma, começo a me envolver demais com as histórias dos demais, faço com que sejam parte da minha história, e depois, eles vão construindo uma nova página e viram aquela em que meu nome constava dos autos...
Como podem todos serem capazes de simplesmente alterar o percurso e eu fica aqui, seguindo na estradinha mediocre?
Diga-se de passagem eu tenho tudo o que alguém precisa. Família, emprego (ainda que não seja o meu emprego dos sonhos), namorado, até amigos... Mas, sou infeliz...
E porque ? Como ceder aos encantos da vida e arder por cada uma das manhãs ?
Como deixa de ser egoísta e ser mais sedenta por conquistas, por renovações, inovações,?
Como ser tomada por uma ânsia de acordar e vencer?
Não consigo !
Já fiz de tudo o que me propuseram: fui ao médico, iniciei um tratamento medicamentoso, faltaram terapias, e finalmente cheguei a me sentir bem por algum tempo.
Hoje, não ha remédios, não há pessoas, não há nada... Nada faz com que minha angustia diminua, nada faz acontecer em mim uma dose diária de alegria, nada faz com que eu tenha um tantinho de felicidade estântanea que seja.
E o que fazer?
Já não sei se quero mais conselhos sobre isso, sobre um centro, uma igreja, um terrero ou qualquer coisa que tire de mim os maus espiritos, fluidos e energias carregadas de um mal estar profundo. Já não sei mais quem está do meu lado, quem eu deixo invadir o meu espaço e cuidar de mim.
Quanto tempo mais ficarei nesse estado estático mesmo tendo a certeza de que algo precisa realmente mudar em mim, para mim, agora, pra ontem?
Não sei!
Não sei !
Mesmo.
Só sei que enquanto tudo isso não passa, enquanto tudo isso não cessa, não diminui... Escrevo, aqui, em folhas soltas que eu jogo por ai... Escrevo pro vento e para os leitores poucos que passam por aqui, sem esperanças de que comentem piedosamente, sem querer que atentem ao desespero das linhas , escrevo, apenas...
Abraços

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A Bonequinha e o Pierrot

Já faz tempo mas ainda me lembro como se tivesse acontecido ontem mesmo, uma vez, depois de uma mudança, veio parar em minhas mãos, como um presente, uma boneca.
Eu não sabia exatamente do que era feita, parecia porcelana. roupinhas delicadas, longos cabelos claros, olhinhos pequenos mas bem traçados.
A Bonequinha parecia nem se dar conta de quão bonitinha era, tinha uma expressão triste que as vezes me dava vontade de chorar com ela recostada sobre meu colo, enquanto nos fitavamos, frente a frente.
Percebi então que tinha com a boneca uma relação engraçada, ao contrário dos outros brinquedos e dos demais presentes que já havia ganhado com aquela eu tinha um cuidado especial.
Nem sempre estava com ela nào, tinha medo de que alguma coisa acontecesse, pois igual não seria fácil encontrar, afinal, quem saberia dizer de onde é que tinha aparecido a dita cuja.
Então, pegava ela de vez em quando, rapidamente cuidava para que ficasse arrumada, tinha com ela uma conversa, por mais insano que isso pareça e a guardava na prateleira.
Um dia, sem mais, com um aperto no coração, recolhi do chão a Bonequinha.
A pobrezinha depois de tantos anos havia se espatifado, sem explicações plausíveis.
Só sei dizer que ela se partiu em milhões de pedacinhos que eu carinhosamente passei dias e dias colando um a um.
Sabia que depois daquilo ela não seria mais a mesma, e a expressão que antes era triste conseguira ficar ainda mais triste.
Lembrei-me então de um Pierrot que tinha há muitos e muitos anos, dos tempos em que guaraná ainda era tampado com rolha como dizem por aí. Então, tive a idéia de colocar ao lado da Bonequinha o tal Pierrot "apaixonado".
São engraçadinhos os Pierrot`s justamente por sua tristeza, a lágrima marcada no rosto que só se percebe feliz depois de quem sabe abrir um sorriso.
Nunca entendi porque me separei daquele Pierrot, eu realmente gostava dele mas, sei lá, quando me dei conta ele estava no baú fazia muito tempo, então, limpei-o e o coloquei ali na prateleira, ao lado da Bonequinha.
Alguns dias se passaram e algo me dizia que os dois ficariam amigos, e então tempos mais tarde namorados... Inocência de quem ainda dá uma de casamenteira com os brinquedos, ainda que sejam apenas brinquedos...
Sempre fui assim, apresentando brinquedos uns aos outros na intenção de que ninguém (pois para mim eram como gente), ninguém mesmo, ficasse só.
Para a minha surpresa, outra mudan;a apareceu no meio do caminho.
Chorei por muitos dias quando me dei conta de que a Bonequinha e o Pierrot haviam ficado para trás.
Acreditando no que me diziam as pessoas para quem contei essa história, passei a crer que nós cumprimos cada qual o seu destino. Os dois estariam juntos como eu pensei que ficariam e eu deveria estar feiz com isso apesar de não vê-los mais para verificar se estavam bem, ou para secar com eles as lágrimas que tantas vezes eu derramei no escuro de um quarto sem sentido.
Realmente não há como prever quando se está vivendo um momento inesquecível, nos damos conta apenas quando aquilo vem na memória e chega a doer as saudades tantas que sentimos.
E foi assim, que apesar de eu ficar sozinha, a Bonequinha e o Pierrot viveram felizes para sempre, apesar de eu ainda não saber o que para sempre quer dizer.